As arribas são o que mais me impressiona na playa d’El Gavieiru (o outro nome pela qual também é conhecida localmente a Playa del Silencio). Constituídas por arenitos, quartzitos e ardósias, de várias formas e cores, são o sujeito fotográfico perfeito para me fazer demorar durante várias horas nesta praia. O contraste de cores entre as várias litologias e as inúmeras e excelentes estruturas geológicas (tectónicas e estratigráficas) que se desenvolvem na falésia, fazem desta praia um dos meus destinos de sonho. Para alguns, fazer nascer imagens neste emaranhado de cores, linhas e formas pode ser um desafio difícil de vencer. Para mim, é um desafio que me encanta! Nem o facto de ter de caminhar sobre um manto constante de pedra rolada me desmotiva. Antes pelo contrário, é mais um dos motivos que aprendi a colocar nas fotografias. Na realidade, só o consegui fazer na segunda visita à praia, depois de alguma intimidade com a mesma e, principalmente, algum sossego no encantamento inicial que as falésias geram na primeira visita. Passados que estão estes ímpetos de novidade, quando regresso há sempre algo novo para fotografar.
Em termos fotográficos, a playa del Silencio é um mundo infinito, capaz de colocar a minha criatividade em ebulição. Há diversos mundos dentro do universo geológico da praia. Podemos fotografar montanhas, rios, lagos, estradas, o que quisermos. Podemos desenhar figuras geométricas e brincar com a matemática daquelas rochas. Ou podemos concentrar- nos nas cores e tentar criar imagens mais abstratas. E combinar ainda tudo isto com algo mais orgânico como sendo a água ou alguma vida animal. Tudo é possível, basta imaginar.
Não há limites ao que se pode fotografar nesta praia e eu nem sequer ainda consegui virar-me de frente para o Mar Cantábrico. Talvez um dia consiga virar costas à falésia. Por enquanto, continuo encantado com as pedras e a tentar fazer o que Weston me ensinou: “ao fotografar uma rocha, faz com que ela se pareça com uma rocha, mas que seja mais que uma rocha”.